*Nota: Se você é uma pessoa que gosta de misturar sensações -como pipoca e cinema-, então recomendo que ouça uma música junto com a leitura. Ouvi várias críticas; alguns dizem que fica ótimo, outros dizem que não conseguem se concentrar nas duas coisas. Então, se você acha que ficaria bom, ouça. Está aqui a música: La Noyee -Yann Tiersen Obrigado pela atenção e boa leitura.
Ainda por baixo dos lençóis brancos,
a máquina já despertava apressada, e se não fosse o doutor a tirá-los num
supetão, ela os sacudiria com força. Vinda de um sono de chumbo, já se punha
disposta, queimando dentro de si o combustível eterno, abrindo as asas brancas,
e mirando no sol. Em sua couraça avermelhada, reluzia o brilho do orbe
distante, enquanto o coração já mostrava os primeiros sinais do ardor da
combustão. Seu esqueleto duro se movia decidido, rodando pra todos os lados,
acelerando o corpo pesado, pondo-o a andar. Seus brônquios de cobre assoviavam
vapores enferrujados, e suas engrenagens giravam em movimentos de rotação e
translação. Munida de um livre-arbítrio incontrolável, livrou-se da âncora
cinzenta que a prendia, e acelerou o passo a ponto de já estar quase correndo.
As asas brancas começaram a bater, se acelerando também a cada batida, ansiosas
para fugir dali. As vértebras já não acompanhavam a brutalidade do corpo, e se
sobrepunham umas às outras em desconcerto. Seu peito incandescia vermelho por
causa do coração que ardia dentro, queimando o combustível eterno. Acelerou
mais, se pôs a correr, e saltou sem medo, voando sem rumo em direção ao sol.