Dormindo em
seu vaso de cobre, embalado pelo pranto inconsolável das ondas marinhas, o
gênio sem nome sonhava com flores. As águas que tentavam perturbar sua paz,
invadindo sua moradia pela porta da frente, imediatamente davam de cara com o
poderoso feitiço de proteção, que expulsava os intrusos com um terrível gosto
de cinzas na boca. Mas, mesmo com as conjuras e impropérios da magia, o gênio
não conseguia permanecer imune às perturbações do mundo sensorial. Era obrigado
por juramento de sangue a obedecer às ordens dos mortais. Então todas as vezes
que tinha seus sonhos roubados por algum infeliz, erguia-se para fora de sua
morada com todo o seu ódio de condenado, disposto a arruinar a vida de quem o
despertou.
—Quero
mulheres — pediu a carpa negra.
O gênio,
malicioso, cercou-a de dezenas de mulheres, uma mais feia que a outra.
—Quero
dinheiro — pediu o polvo.
O gênio,
cruel, encheu seus oito braços com pulseiras de ouro cravadas de diamantes de
outras dinastias. O polvo ainda se admirava, estarrecido, quando foi roubado e
morto.
—Quero andar
para frente — pediu o caranguejo.
Mas o gênio,
desumano, o amaldiçoou a andar para sempre em frente, numa linha reta que dava
a volta no globo e abraçava a si mesma.
—Quero poder
— pediu o camarão.
E o gênio,
sádico, o transformou em outro gênio, para que passasse dez mil anos trancado
num vaso e realizando pedidos.
—Quero
flores — pediu a truta.
Então o
gênio, frágil, hesitou. Viu nos olhos daquela criatura algo tão humano e tão
bonito que chegava a fazer os ossos cantarem. Lembrou-se dos tempos de
floricultura, antes das jornadas pelo poder, dos pactos diabólicos, da prisão
de ventre. Sentiu rasgar em seu rosto um sorriso esquecido, que voltava como um
amigo de infância. Conjurou então um buquê fantástico, composto das raríssimas
flores do outro lado, com cheiro de poesia fresca e de esperança que não morre.
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