Estava prestes a jogar o último tapete
ao mar quando ouviu a baleia-jubarte navegando nos céus. Cortava as nuvens com
sua forma majestosa, bailando sutil com seus deuses e amigos imaginários. Tomou
um momento para admirar o animal, antes de finalizar a árdua tarefa. O grosso
bigode salgado escondeu o sorriso triste, enquanto as roupas surradas sufocaram
o suor frio. As lágrimas, porém, brotaram livres de qualquer repressão.
Deslizavam devagarinho no rosto endurecido, deixando um rastro tênue de
humanidade. O tapete não tentava mais reagir. Sem forças, prostrado pelas
correntes de ferro que lhe sugavam a vida aos poucos, parecia ter se entregado
ao destino triste dos homens que viram demais. Lembrava-se com esforço dos dias
de glória, quando flutuava entre as pilastras áridas e pairava sobre as ruas do
Mercado Amarelo. O Capitão, em todos os seus anos de mar, nunca tinha visto um
tapete voador em pessoa. Viu as hidras e as sereias, as cidades de coral e os
peixes de metal. Viu um redemoinho engolir uma ilha inteira, pedra por pedra.
Viu navios fantasmas, piratas chineses, lulas gigantes. Encontrou milhares de
mensagens em garrafas, todas com declarações de amor a uma mesma mulher:
Leonora Augusta. Ouvia outros marinheiros contarem sobre a estranha natureza
dos tapetes: seus hábitos de voarem rente ao mar, para sentirem o cheiro da
água salgada; seu pavor a todo tipo de opressão; seu amor incondicional pela
poesia. Falavam da maneira espetacular com que eles recitavam seus versos, em
sua língua lânguida e comprida, como a das baleias-jubarte. Então quando a
baleia voadora soltou um longo e triste suspiro, ficou surpreso ao ver o tapete
responder na mesma intensidade. Ela voltou a retrucar, e ele respondeu de novo.
Falavam-se em lamentos rimados, sons angelicais de outro mundo. O Capitão,
comovido pelas vozes de violino, pensava em parar. Pensava em largar tudo,
ignorar a diretriz cento e doze, e zarpar para o leste. O tapete, apaixonado,
ria e chorava, contando uma história sobre homens e mulheres livres. Nela, um
agricultor de pés vermelhos pedia a um gênio pelo poder de plantar uma safra
que crescesse até dois metros de altura, e que as pragas não pudessem devorar.
O Capitão, porém, tinha medo. Temia que as frotas imperiais o perseguissem até
os confins do mundo, cobrando pela morte de todos os dezesseis tapetes
voadores. O gênio, que era um homem honrado, perguntou ao fazendeiro o que ele
pretendia fazer com este poder. Ele respondeu: “alimentar meu povo!”. Era um
nobre propósito, maior que qualquer dinheiro ou conforto do mundo dos homens. O
gênio, porém, advertiu: “Irão te caçar e queimar sua lavoura, grão a grão”. Já
sabia, e agora estava disposto a morrer numa luta de espadas e enxadas do outro
lado do globo, se precisasse. “Mas valerá a pena, se puder alimentar uma alma
inocente sequer”, concluiu o homem. Disse, chorou, rompeu as correntes e
estendeu o tapete, libertando seus desenhos amarelos. Empunhou a enxada,
preparou as costas para o trabalho duro. Observou as criaturas voarem juntas,
felizes. Ouviu por mais um momento seu canto angelical. Arou o solo, plantou as
sementes. Pegou a bússola e girou o leme de sua embarcação.
Cara, Muito bom seu conto, muito bom mesmo.
ResponderExcluirEu gosto muito dessas sacadas tipo "O grosso bigode SALGADO escondeu o sorriso triste" que com uma palavra é possível pegar toda uma ideia de quem, onde esta entre outras coisas, sinto inveja dessa escrita,pois eu nunca uso mesmo gostando bastante.
A unica ressalva que eu posso falar de seu conto é o fato de ser paragrafo único. É bom evitar parágrafos únicos, pois o texto fica cansativo para os olhos e dificulta na leitura, também pode deixar algumas ideias um pouco confusas.
Mas volto a dizer, seu conto esta ótimo, o surrealismo empregado e os sentimentos expressos pelos personagens nesse mundo fantástico são incríveis.
PS. Meu nome é Vinicius e eu esto no grupo Storytelling do Face xD
Vinicius, muito obrigado pela crítica! Estou muito feliz que tenha gostado. Concordo que o parágrafo único é cansativo, só não achei nenhum gatilho neste texto que pudesse justificar a criação de um parágrafo novo. Vou trabalhar nisso no próximo;)
ExcluirQual o seu sobrenome mesmo? Tem mais de um Vinicius lá xD
Vinícius Mendonça xD
ExcluirEsqueci de colocar
Eu sou uma baleia voadora :)
ResponderExcluirEndereço: Nuvemlândia, Rua das gorduras, 1KG
Se me visitar eu vou te esmagar.
:/
Seu gordo
ExcluirBaleiudo
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