—Agora pense num lugar! —Disse o
professor Freund— Um que seja leve e despreocupado, que tenha cheiro de
infância e de boas lembranças.
Tentou se concentrar com o vento
forte no rosto e o canto das araras nos ouvidos, mas teve o fluxo de seu
pensamento subitamente interrompido pela surpresa de ver passar por entre as
nuvens um enorme palácio de azulejos azuis, exatamente conforme havia imaginado.
Inclinou-se para fora da máquina voadora, observando espantado enquanto ele
desaparecia no horizonte.
—O trólebus pode ir a qualquer lugar
—explicou o professor— Seja ele real ou imaginário!
Imaginaram então uma cidade esculpida
da rocha, habitada por homens vermelhos e criaturas fantásticas. Com castelos
de cartas de tarô e casinhas de pão de ló. Em sua mente, ladrilharam as vielas
com pedrinhas brancas, dando passagem às multidões de touros ferozes. Borbulharam
suas ruas de gente feliz e sem medo, que gostava de esvoaçar lenços brancos por
qualquer motivo. Criaram um festival dos tambores onde a população tocava
eufórica com fitas vermelhas amarradas nos braços, e cada nota vibrava o
universo em alegria sincera. Cultivaram uma flora de fungos e cogumelos
coloridos nas paredes de granito. Montaram uma praça bem grande, onde os
demônios vermelhos pudessem apregoar suas visões apocalípticas enquanto os
deuses azuis tocavam violão por alguns trocados. Então declararam festa geral
na cidade, manobrando o opulento corpo de serpente da máquina voadora para
desviar dos fogos de artifício de todas as cores, apreciando cada momento da
fantástica viagem do trólebus.
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