quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Fantástica Viagem do Trólebus

            —Agora pense num lugar! —Disse o professor Freund— Um que seja leve e despreocupado, que tenha cheiro de infância e de boas lembranças.
            Tentou se concentrar com o vento forte no rosto e o canto das araras nos ouvidos, mas teve o fluxo de seu pensamento subitamente interrompido pela surpresa de ver passar por entre as nuvens um enorme palácio de azulejos azuis, exatamente conforme havia imaginado. Inclinou-se para fora da máquina voadora, observando espantado enquanto ele desaparecia no horizonte.
            —O trólebus pode ir a qualquer lugar —explicou o professor— Seja ele real ou imaginário!
            Imaginaram então uma cidade esculpida da rocha, habitada por homens vermelhos e criaturas fantásticas. Com castelos de cartas de tarô e casinhas de pão de ló. Em sua mente, ladrilharam as vielas com pedrinhas brancas, dando passagem às multidões de touros ferozes. Borbulharam suas ruas de gente feliz e sem medo, que gostava de esvoaçar lenços brancos por qualquer motivo. Criaram um festival dos tambores onde a população tocava eufórica com fitas vermelhas amarradas nos braços, e cada nota vibrava o universo em alegria sincera. Cultivaram uma flora de fungos e cogumelos coloridos nas paredes de granito. Montaram uma praça bem grande, onde os demônios vermelhos pudessem apregoar suas visões apocalípticas enquanto os deuses azuis tocavam violão por alguns trocados. Então declararam festa geral na cidade, manobrando o opulento corpo de serpente da máquina voadora para desviar dos fogos de artifício de todas as cores, apreciando cada momento da fantástica viagem do trólebus.

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