segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Poderoso Rufar do Bumbo Cósmico

            Andava pelas ruas com o enorme bumbo amarrado à sua barriga, tocando sua sinfonia de um instrumento só por alguns trocados. Rasgava e remendava o tecido da realidade e do bom senso a cada batida de seu bumbo cósmico. O timbre inconfundível de suas notas enchia as vielas de uma música alegre de coração, que fazia as petúnias pularem dos vasos para dançar na sacada das casas. Tirava o vidro das janelas e os deixava flutuando no ar. Os camundongos interrompiam seus delitos para cantarem em coro a canção dos piratas. As louças chinesas pulavam do armário para declamar seu amor aos pratos de plástico. A primeira página dos jornais enchia-se de tirinhas engraçadas sobre bárbaros e gatos cor de laranja. Enquanto isso os cachimbos dos homens inflamavam-se em sonhos empreendedores e saíam correndo pelas casas cuspindo seus delírios de fumaça. As galinhas que haviam sido postas para assar pulavam para fora dos fornos ressuscitadas e completamente restituídas de suas partes, correndo assustadas e ciscando migalhas no chão. Já os diversos quadros nas paredes pulavam para fora de sua realidade aquarela com o único propósito de ouvirem a música do bumbo cósmico uma única vez.
            Quando chegava a noite o músico encerrava as atividades, contava os trocados, comia como o dinheiro deixasse, e recolhia-se ao seu cafofo apertado para dormir. Então deitava-se sobre o bumbo e compunha para si um sonho leve, com velhos amigos e amores impossíveis. 

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