Andava pelas
ruas com o enorme bumbo amarrado à sua barriga, tocando sua sinfonia de um
instrumento só por alguns trocados. Rasgava e remendava o tecido da realidade e
do bom senso a cada batida de seu bumbo cósmico. O timbre inconfundível de suas
notas enchia as vielas de uma música alegre de coração, que fazia as petúnias
pularem dos vasos para dançar na sacada das casas. Tirava o vidro das janelas e
os deixava flutuando no ar. Os camundongos interrompiam seus delitos para
cantarem em coro a canção dos piratas. As louças chinesas pulavam do armário
para declamar seu amor aos pratos de plástico. A primeira página dos jornais
enchia-se de tirinhas engraçadas sobre bárbaros e gatos cor de laranja.
Enquanto isso os cachimbos dos homens inflamavam-se em sonhos empreendedores e
saíam correndo pelas casas cuspindo seus delírios de fumaça. As galinhas que
haviam sido postas para assar pulavam para fora dos fornos ressuscitadas e
completamente restituídas de suas partes, correndo assustadas e ciscando
migalhas no chão. Já os diversos quadros nas paredes pulavam para fora de sua
realidade aquarela com o único propósito de ouvirem a música do bumbo cósmico
uma única vez.
Quando
chegava a noite o músico encerrava as atividades, contava os trocados, comia
como o dinheiro deixasse, e recolhia-se ao seu cafofo apertado para dormir.
Então deitava-se sobre o bumbo e compunha para si um sonho leve, com velhos
amigos e amores impossíveis.
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