Procurava mover seu corpo colossal
pela multidão do Mercado Amarelo, tentando distinguir a voz dos vendedores e a
das quiméricas criaturas que viviam nos bolsos internos do seu jaleco. Usava
uma luneta para poder ver já de longe as melhores ofertas de garrafas de sonhos
e potes de areia brilhante. Um homem ao seu lado gritava os preços dos pêssegos
e dos homenzinhos mecânicos, enquanto outro parecia entretido na mais cansativa
das discussões, negociando o valor de uma maçã mordida. Chamou-lhe a atenção um
gigantesco animal vestindo uma manta imperial rasgada, que trazia nos braços
diversas espécies de peixes pendurados em cabides metálicos. O cheiro do peixe
cru já puxava seu corpo em direção à tentação quando sentiu o chifre de uma das
criaturas cutucando sua costela. “Não compre! Está estragado”, disse ela. Não
convém desprezar as quiméricas criaturas. Cunhadas no suor e nas lágrimas, foram
criadas para dar os mais sábios conselhos. “A solução para os problemas do
cotidiano”, como as descreveu o vendedor. “Siga em frente”, continuaram
aconselhando. Ansioso, continuou avançando sua forma monumental por entre as
ruas, admirando através da luneta o espetáculo do Mercado Amarelo. Viu um
vendedor de grãos deixar um punhado de lentilhas escorrer por entre os dedos
como areia, enquanto outro trazia nos braços cântaros transbordando com mel
envenenado. Passou ao seu lado um homem vendendo remédios e outro que oferecia
vegetais de todos os tipos. “Compre umas bolinhas rosas para o nervoso”, disse
uma das criaturas. “E algumas roxas para os delírios da mente”, completou mais
uma. “Leve também alguns legumes para a sopa”, lembrou a outra. Obedeceu apenas
para receber mais um conselho enigmático: “continue andando, e não se esqueça
de pedir um balão”. Curioso, seguiu até dar de cara com um homem vendendo saquinhos
de cores diferentes onde os cubos de gelo não derretiam, e os relógios não
andavam. Mesmo não conseguindo conceber em sua mente um invento mais inútil,
perguntou quanto custava, e o homem lhe respondeu fervendo: “uma poesia, um
abraço, e um sorriso”. Pagou de bom grado com uns versinhos de sua autoria, um
abraço apertado que vinha guardando para a melhor ocasião, e um sorriso amarelo
que havia restado no fundo do seu coração. Pediu também o balão, que o vendedor
ficou feliz em lhe dar de presente. Amarrou-o na cintura e viu-se livre de todo
o peso da Terra, flutuando por cima do Mercado Amarelo, assistindo de longe o
burburinho da multidão. E quando esteve livre de todo nervoso da rotina
estafante, agradeceu à sorte por ter dado ouvidos às quiméricas criaturas.
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