Todos os anos, lá pelo mês de
novembro, o alquimista escolhia uma cidade para descansar de sua viagem.
Apreciou os bons vinhos entre os homens do campo, rezou nos monastérios
enevoados que ficavam no topo das montanhas, e partilhou da pobreza dos
sertanejos. E o povo contava durante muito tempo sobre um homem de olhos
cinzentos que colecionava pores do sol numa latinha de amendoim e vendia as
bizarrices que cultivava debaixo das axilas. Mas quando chegava o último dia do
mês era acometido de novo por suas comichões de viajante sem remédio,
desaparecendo sem dar adeus na linha do horizonte. Voltava a morar na estrada,
onde pertencia de verdade, vendendo seus tônicos vitaminados e poções curativas
para pagar as refeições. Dormia sob o manto aconchegante do firmamento
celestial, procurando extrair até a última gota do suco de besouros, ou
tentando sorver o elixir da felicidade à luz das estrelas. Aproveitava a água
das chuvas para cozinhar as unhas de colosso em seu caldeirão, para diluir o pó
de osso, ou até mesmo para beber. Adicionava as vozes élficas que achava na floresta
ou o ronronar de fêmeas excitadas à receita tradicional de poção do amor para
máxima eficiência. Meditava por horas a fio, procurando transformar o caldo sem
vida nas poções fantásticas de propriedades metafísicas pelas quais era famoso.
Então vendia os frutos de seu trabalho por uma sandália nova, um pedaço de pão,
ou um dia de vida. Seguia seu caminho em solidão, pagando de bom grado o caríssimo
preço de sua magia, que era perseguir eternamente o outro lado do globo. E
quando pensava que não poderia mais aguentar os calos nos pés e o vento nas
costas, sentia a brisa leve de novembro soprando em seus ouvidos, e escolhia
uma cidade para descansar de sua viagem. Assim seguia, feliz em apreciar cada
momento da bênção que era a maldição dos magos.
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